Simões Filho revela o paradoxo da economia baiana: potencial industrial elevado, gestão pública frágil e uma crise educacional que exige ação imediata

Um dos principais polos industriais da Bahia, vive uma contradição que se tornou emblemática da crise de gestão pública brasileira: é uma cidade rica incapaz de garantir o mínimo. A cena que circulou na última semana onde funcionários de uma empresa contratada pela prefeitura retornaram a uma escola municipal para destelhar parte da obra e remover portas e janelas por falta de pagamento, expõe um colapso que ultrapassa a educação. Trata-se de um sinal de alerta econômico, social e institucional.

Como explicar que a sétima economia da Bahia, com quase 200 indústrias instaladas e localização estratégica na Baía de Aratu, se transforme em palco de calote, desmonte de obra pública e paralisia administrativa?
A resposta leva inevitavelmente à gestão municipal.

A prefeitura, liderada pelo prefeito Del (União Brasil), encontra-se no centro da crise não apenas pela inadimplência com fornecedores, mas pelo conjunto de decisões econômicas questionáveis – e, recentemente, pelo pedido de um novo empréstimo internacional de US$ 75 milhões, que pode elevar a dívida municipal a mais de R$ 700 milhões. É um salto fiscal arriscado para um município que, neste momento, não consegue honrar compromissos básicos como a reforma de uma simples escola.

A equação é evidente: não há problema de falta de recurso; há um problema de prioridade, planejamento e transparência. Quando empresas começam a desfazer obras porque não receberam, o sinal deixado para o mercado é devastador. Nenhum investidor sério se sente seguro em um ambiente institucional que não paga, não fiscaliza contratos e tenta contrair dívidas expressivas sem clareza de aplicação. É a antítese do que se espera de uma cidade que busca atrair novos negócios, consolidar sua matriz industrial e ampliar infraestrutura estratégica.

Esse quadro também impõe uma cobrança direta ao governo do estado.
Simões Filho não é um município periférico e irrelevante: é um dos motores industriais da Bahia, detentor de infraestrutura portuária, logística e de mão de obra que impacta diretamente o PIB estadual. Quando uma cidade desse porte entra em crise administrativa, o reflexo extrapola sua fronteira e respinga na imagem do próprio estado como ambiente de negócios.

Por isso, não basta que o governador acompanhe “com atenção”.
É necessária fiscalização ativa, intervenção política responsável e acionamento dos órgãos de controle para garantir que a educação, e o dinheiro público, voltem ao eixo.
Um município que busca contrair centenas de milhões de reais em novos empréstimos precisa demonstrar capacidade de gestão, e não incapacidade de concluir uma obra de porte reduzido. Ao governo estadual, cabe o papel institucional de preservar a credibilidade da Bahia como destino econômico, evitando que gestões municipais transformem problemas locais em crises regionais.

No campo social, o impacto é ainda mais brutal. Alunos, professores, famílias e comunidades que já enfrentam vulnerabilidade passam a conviver com incerteza, salas inacabadas, estruturas comprometidas e a sensação de abandono. A escola, que deveria ser espaço de proteção, vira símbolo de negligência. E nenhum plano de modernização, nenhuma promessa de investimento, nenhum discurso sobre “cidade industrial forte” resiste à imagem de uma escola sendo desmontada por falta de pagamento.

Em economia, confiança é um ativo tão valioso quanto arrecadação.
Simões Filho perdeu os dois.

Para recuperar esse capital, será necessária mais do que uma nota oficial. Será preciso:

transparência real nas operações de crédito contratadas e pretendidas,

auditoria imediata sobre contratos ativos e pagamentos pendentes,

plano fiscal público e verificável,

e uma posição firme do governador, que precisa assumir o papel de garantidor da estabilidade administrativa no que é, sim, um dos municípios mais estratégicos da Bahia.

Simões Filho ainda tem força industrial, potencial de expansão e posição privilegiada na economia baiana. O que falta, e falta muito, é gestão que esteja à altura da sua relevância. E essa cobrança precisa vir de toda parte: da população, do Legislativo, da imprensa, do governo estadual e dos órgãos de controle.

Porque quando uma cidade rica não consegue manter uma escola de pé, não é apenas um problema municipal.
É um diagnóstico. E é um alerta.
Um alerta que o prefeito e o governador não podem mais ignorar

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