Um estudo recente sobre a agricultura portuguesa reacendeu o debate sobre o peso econômico dos polinizadores. E no Brasil, esse impacto é ainda maior e decisivo para o agro.
Enquanto Portugal estima ganhos superiores a 2 mil milhões de euros ao ano graças aos serviços ecossistêmicos de polinização, pesquisas brasileiras mostram que o Brasil já colhe um efeito econômico muito mais expressivo.
De acordo com um levantamento da Embrapa e pesquisadores da USP e UNESP, a polinização realizada por abelhas adiciona aproximadamente R$ 43 bilhões por ano ao valor total da produção agrícola brasileira. Em algumas culturas, até 90% do rendimento depende diretamente dos polinizadores, o que torna o país um dos mais sensíveis, e ao mesmo tempo mais beneficiados, pela manutenção desses insetos.
Especialistas apontam que os polinizadores são essenciais para culturas estratégicas do Brasil:
Café
O Brasil é o maior produtor mundial.
A polinização pode aumentar em 20% a produtividade.
Estima-se que R$ 1,6 bilhão/ano da renda cafeeira dependa de abelhas.
Frutas e hortaliças
Manga, melão, maçã, melancia e abacate dependem entre 60% e 80% da polinização animal.
Só o setor frutícola movimenta mais de R$ 40 bilhões anuais no Brasil.
Soja
Embora autopolinizável, estudos indicam que abelhas podem aumentar a produção em até 18%, representando ganhos bilionários em escala nacional.
O que Portugal acende como alerta, o Brasil deve enxergar como vantagem competitiva
Se em Portugal o impacto calculado pela Universidade de Coimbra acende um sinal de alerta sobre a necessidade de proteger polinizadores, no Brasil, maior celeiro agrícola do mundo, o tema deveria ser tratado como política de Estado.
Com 30% do PIB do agronegócio atrelado a culturas que dependem de polinização, especialistas defendem que investir na preservação desses insetos significa:
Aumentar produtividade sem expandir área plantada
Reduzir custos de produção
Elevar padrões ambientais internacionais
Melhorar acesso do Brasil a mercados que exigem sustentabilidade
Assim como alertado pela pesquisa portuguesa, o Brasil também enfrenta riscos:
Desmatamento e perda de habitat
Uso inadequado de agrotóxicos
Monoculturas extensivas
Mudanças climáticas
Estudos mostram que o país perde milhões de colônias de abelhas por ano, o que representa não só um dano ambiental, mas um impacto econômico direto no agronegócio.
Se Portugal mostra que a polinização vale bilhões para a economia, o Brasil precisa reconhecer que a nossa dependência e o nosso potencial são ainda maiores.
Proteger polinizadores significa fortalecer o agro, aumentar lucro na porteira e garantir competitividade mundial.
É um tema ambiental, sim.
Mas, acima de tudo, é um tema econômico e de futuro para o Brasil



