A poucos dias da apresentação do segundo Orçamento do atual chanceler, o clima entre líderes empresariais britânicos é — novamente — de tensão. O motivo é simples: no ano passado, o governo impôs um dos pacotes tributários mais pesados da última década, atingindo em cheio empresas que já lidavam com margens comprimidas, custos de energia elevados e uma economia ainda em recuperação.
A conta daquele ajuste drástico ainda não foi totalmente absorvida. O aumento de £25 bilhões na contribuição do National Insurance (equivalente a um encargo social), somado ao reajuste expressivo do salário mínimo — que avançou acima da inflação —, deixou muitos setores em situação de fragilidade. Para várias empresas, especialmente as de médio porte, o choque não foi apenas fiscal, mas estratégico: forçou revisões de contratação, cortes operacionais e congelamento de investimentos.
Agora, às vésperas de um novo anúncio orçamentário, paira a dúvida:
o governo virá disposto a aliviar o peso sobre o setor produtivo ou insistirá na mesma rota de aperto, mesmo com claros sinais de desaceleração econômica?
O dilema do governo e a ansiedade das empresas
Para o governo, a equação é mais política do que técnica. Com pressão para financiar serviços públicos debilitados e reduzir o déficit, qualquer gesto de alívio fiscal exige contrapartidas difíceis. Para as empresas, entretanto, a percepção é quase unânime: não há mais espaço para absorver novos aumentos de custo sem comprometer a competitividade.
A incerteza fiscal vem justamente quando muitos negócios tentam se reaproximar de níveis pré-pandemia. O câmbio volátil, os juros altos e a estagnação da demanda interna criam um cenário em que decisões do Tesouro têm impacto direto sobre a sobrevivência de setores inteiros — da manufatura ao varejo.
Um governo que cobra muito e entrega pouco
A crítica recorrente de analistas é que o governo britânico exige austeridade das empresas, mas oferece previsibilidade limitada em troca. O aumento simultâneo de encargos e obrigações trabalhistas, sem medidas equivalentes de estímulo à produtividade, tem sido visto como um movimento contraditório, sobretudo quando a própria economia mostra perda de fôlego.
O resultado é um sentimento difuso de insegurança: empresas que deveriam estar planejando expansão estão, na prática, tentando apenas sobreviver ao próximo ciclo fiscal.
O que pode vir neste novo Orçamento?
Ainda que o Tesouro sinalize a intenção de ser “mais sensível” ao setor produtivo, três cenários estão sobre a mesa:
Alívio tímido em encargos trabalhistas — insuficiente para compensar o aumento anterior.
Medidas pontuais para setores específicos, como tecnologia e energia.
Manutenção da carga atual, o cenário mais temido, e o que muitos analistas consideram provável.
Seja qual for a escolha, uma coisa já está clara: as empresas entraram nesta reta final mais nervosas do que no ano passado — e com motivos reais para isso



