A cidade de Capela voltou a viver um déjà-vu político desagradável. Nas últimas semanas, circulam novamente os vídeos envolvendo o deputado da usina, acusado por trabalhadores de ter contratado equipes para o corte de cana e, posteriormente, deixado centenas de famílias sem pagamento. As imagens, que já haviam repercutido meses atrás, retornam às redes e aos grupos de WhatsApp com ainda mais força. E com a mesma pergunta sem resposta: quem assume essa responsabilidade?
Até agora, não houve qualquer posicionamento público claro do deputado caloteiro sobre o episódio. A única manifestação registrada ocorreu em circunstâncias pouco republicanas: um tumulto em que ele agride um aliado com golpes de chicote, fato que agravou ainda mais sua crise de imagem. Para grande parte da população, essa é a única lembrança recente de quando ele se manifestou sobre algo.
Enquanto isso, os trabalhadores continuam sem respostas, e centenas de famílias seguem sem saber o que será feito, em meio à instabilidade financeira e à falta de explicações da parte que deveria prestar esclarecimentos.
É fato: trata-se de uma relação de trabalho privada, e não de uma política pública. Mas isso não elimina o impacto social que o caso produz. Especialmente em municípios menores, onde a economia depende fortemente da renda de atividades sazonais, e de um aliado do governo.
O que intensifica a cobrança é o silêncio que também parte do cenário institucional. Até o momento, o governo do Estado não tocou no assunto, e o desconforto cresce entre aliados e observadores políticos.
Analistas ressaltam que, mesmo não sendo responsável direto pela ação privada, o governador Fábio Mitidieri enfrenta um dilema: manter na base alguém cuja imagem, hoje, se tornou um peso político difícil de carregar.
A avaliação é que a presença de uma figura tão desgastada pode contaminar o trabalho técnico e administrativo realizado pelo governo, criando ruídos desnecessários e associações indesejadas, sobretudo porque o deputado é visto por parte dos capelenses como um forasteiro, e agora, caloteiro. Alguém sem raízes locais, sem lastro comunitário, e o pior, que conta com a conivência do governo para fazer o que bem quer e entender. Inclusive, agredir mulheres as vésperas das eleições e nada acontece.
Nos bastidores, cresce o debate sobre os limites da tolerância política. Quando um aliado passa a gerar mais crise do que apoio, a base governista inevitavelmente se vê cobrada por posicionamentos que preservem a imagem do próprio governo.
E enquanto o deputado permanece em silêncio, e o governo evita tocar no assunto, o clima permanece suspenso:
Capela chora.
Os trabalhadores esperam.
A sociedade quer respostas.
E famílias que passaram fome, não esquecem.
E quanto mais tempo esse silêncio se prolonga, maior se torna o desgaste. E a sensação de que o caso foi empurrado para debaixo do tapete.



