Sergipe vive um momento raro na política energética do país: tem potencial, tem timing e, agora, tem também um governador disposto a pensar grande. As declarações de Fábio Mitidieri ao Poder360 reforçam uma guinada que há muito se esperava: a de um Estado que deixa de enxergar o gás natural como simples commodity fiscal e passa a tratá-lo como plataforma de desenvolvimento.
Quando o governador afirma que “não quer ser o Uber do gás”, ele não faz apenas uma frase de efeito. Ele mostra que há, finalmente, ambição intelectual e política para transformar um ativo estratégico em algo que produza empregos, indústria, renda e autonomia. É uma fala que carrega visão, mas, sobretudo, posicionamento: Sergipe não quer ficar no lugar passivo que historicamente lhe empurraram.
E essa postura, no tabuleiro político, tem peso.
Num Brasil que ainda insiste em exportar riqueza bruta e importar desenvolvimento, Mitidieri faz um contraponto necessário. Ele se coloca como governador de um estado que não aceita apenas receber royalties para tapar buracos, mas que pretende liderar a transição energética nordestina, disputando protagonismo com quem sempre concentrou os investimentos nacionais.
A defesa de atrair indústrias, verticalizar cadeias produtivas e usar o gás como elemento fundador de uma nova industrialização sinaliza maturidade administrativa e coragem. Porque é fácil governar esperando o cheque dos royalties cair na conta. Difícil, e politicamente mais ousado, é querer disputar o futuro.
E aqui há um ponto que precisa ser dito: Sergipe está na janela certa. O país revisa suas matrizes energéticas, abre espaço para o hidrogênio, requalifica gasodutos e tenta descentralizar as oportunidades. Quem se movimenta agora, ganha. Quem não se mexe, vira espectador.
O governo de Sergipe escolheu o lado de quem se movimenta.
O encontro entre potencial energético, ambiente político favorável e uma liderança que vocaliza o que antes ficava apenas em diagnósticos técnicos coloca o estado em outro patamar de discussão nacional. Mitidieri projeta Sergipe para além de suas divisas, e isso não é elogio vazio; é constatação jornalística e leitura política.
Se as ações seguirem o ritmo das intenções, Sergipe pode dar ao Brasil um exemplo raro: o de um estado que, tendo gás, escolheu ter também projeto.



