O encerramento da cúpula do G20 na África do Sul, neste fim de semana, foi marcado por um gesto que ultrapassou o simbolismo diplomático e alcançou impacto concreto na dinâmica do bloco: os Estados Unidos optaram por boicotar integralmente o encontro, ausentando-se das discussões do grupo que reúne as maiores economias do mundo.
A decisão, tomada pelo governo Donald Trump, surpreende não apenas pela ruptura protocolar, mas pelo fato de que os EUA assumem a presidência rotativa do G20 em 2026. É raro — e politicamente ruidoso — que um país abdique de participar justamente da reunião que antecede sua própria gestão.
A ausência americana reduziu a capacidade de articulação do grupo em pautas sensíveis, especialmente num momento em que as economias emergentes buscam ampliar protagonismo e as nações desenvolvidas tentam recompor consensos globais em temas como transição energética, reestruturação de dívidas e governança multilateral.
Observadores internacionais avaliam que o gesto americano sinaliza um recuo estratégico em relação ao multilateralismo — marca do governo Trump em seu primeiro mandato — e gera incertezas sobre o papel que os Estados Unidos pretendem desempenhar no próximo ciclo do G20. A mensagem implícita é clara: Washington prefere reforçar negociações bilaterais e reduzir o peso de fóruns coletivos que historicamente ajudou a consolidar.
Diplomatas que acompanharam o encontro afirmam que, apesar da ausência dos EUA, a cúpula manteve o esforço por consensos mínimos, mas reconhecem que qualquer tentativa de declaração conjunta perdeu força. Sem a participação americana, faltou o componente político que, desde a criação do G20, servia como eixo de mediação entre blocos com interesses divergentes.
O episódio deixa um desafio imediato: como o grupo irá se reorganizar para 2026 sob a presidência de um país que, dias antes, escolheu se ausentar? O boicote não impede o exercício formal da liderança, mas enfraquece a percepção de comprometimento — moeda essencial em fóruns multilaterais.
Para muitos analistas, o fato de o G20 ter caminhado sem a presença dos EUA não representa apenas um ruído diplomático, mas um sinal do realinhamento geopolítico em curso, no qual a intermitência americana abre espaços para outros atores influenciarem a agenda global.



